Por muito tempo, a ciência tratou o cérebro como uma estrutura imutável e que parava de se desenvolver ainda na juventude. Isso significava que, se uma pessoa sofresse algum tipo de lesão no cérebro, ele não seria capaz de se recuperar. Mas, hoje, se sabe que o cérebro é plástico, ou seja, o sistema nervoso tem a capacidade de se reorganizar e formar novas conexões neurais.
Breve história de muitos anos de pesquisa
Apesar do termo neuroplasticidade ter sido usado pela primeira vez apenas em 1948, os estudos começaram muito antes disso. A primeira teoria sobre essa capacidade do cérebro foi criada pelo psicólogo Williams James em 1890, no livro “Princípios da Psicologia”. Décadas depois, em 1948, o neurocientista polonês Jerzy Konorski usou o termo para descrever que o cérebro teria uma capacidade plástica1.
Contudo, foi na década de 1960, quando pesquisadores descobriram que o cérebro era capaz de se reorganizar após lesões, tanto funcional quanto fisicamente, na vida adulta1,2, que a neuroplasticidade passou a ser realmente estudada e ganhou destaque.
Tipos de neuroplasticidade
No cérebro a informação é transmitida pelos neurônios, que se conectam através das sinapses. É nessa conexão especial que os neurotransmissores viajam entre neurônios, para propagar a informação que aquela determinada região do cérebro está trabalhando. Mas, essas conexões entre neurônios podem ser alteradas, e isso é a neuroplasticidade em ação1.
Na prática, existem dois tipos principais de neuroplasticidade, a estrutural e a funcional. A plasticidade estrutural está ligada à capacidade de alteração da estrutura física do cérebro, como acontece quando você aprende algo novo e o sistema nervoso precisa criar um novo caminho neural, ou então fortalecer as sinapses existentes, para poder guardar essa informação. Já a plasticidade funcional está ligada à habilidade de mudar funções de uma área para outra. Isso acontece, por exemplo, quando uma pessoa sofre lesão em determinada área. Nessa situação, o cérebro é capaz de passar a função que aquela área agora lesionada, para uma nova região.2,3.
Durante o período da infância, o cérebro está em constante evolução e crescimento, assim, é de se imaginar que a plasticidade nesse período seja maior. Quando nascemos, temos cerca de sete mil e quinhentas conexões entre neurônios. Aos dois anos, esse número cresce exponencialmente, chegando a ser o dobro do que teremos na vida adulta2.
Na fase adulta, conforme nos desenvolvemos, certas conexões são fortalecidas, enquanto outras são eliminadas. Esse processo de poda sináptica também ajuda o cérebro a se adaptar às mudanças ao longo da vida. É por isso que um adulto não tem tantas sinapses como uma criança, que está aprendendo algo novo a cada dia. Porém, isso não quer dizer que o cérebro adulto não seja capaz de aprender algo novo, por exemplo2,3.
Benefícios: do aprendizado à recuperação de lesões
O aprendizado, em qualquer fase da vida, é um dos grandes benefícios da neuroplasticidade, e o exemplo mais prático dela. Entretanto, essa capacidade traz consigo outros benefícios tão ou mais importantes. Imagine que uma pessoa sofreu uma lesão cerebral, como um derrame ou outro tipo de trauma, que acarretou a perda de certa função. Através da plasticidade, o cérebro não só é capaz de se recuperar, bem como, pode fortalecer outras áreas, para compensar essa perda. Por exemplo, se a lesão causar a perda de um sentido, outros podem ser aguçados2,3.
A neuroplasticidade ainda ajuda a melhorar capacidades cognitivas e a aptidão cerebral3.
Porém, é preciso saber também que até a neuroplasticidade tem seus limites, e danos importantes em áreas consideradas chave do cérebro podem não ser 100% compensadas por outras áreas, resultando em déficits3.
Um processo contínuo
Se estamos em constante mudança, a neuroplasticidade é então um processo contínuo. Tanto na infância quanto na fase adulta, um ambiente rico – que tem novidades, que promove aprendizado e desafios – estimula a plasticidade. Uma maneira simples que você pode usar para enriquecer o seu ambiente é através da leitura. Você também pode escolher um desafio maior, como aprender um novo idioma2,3.
Além disso, a qualidade do sono, a prática de atividades físicas regularmente e a prática da atenção plena (mindfulness) também são maneiras de melhorar a neuroplasticidade2,3.
A neuroplasticidade ainda é tema de muitos estudos, e conforme a neurociência, a psicologia e outras áreas se expandem, mais aprendemos como o cérebro se comporta e responde a diferentes estímulos e situações.
1 – Neuroplasticity. Physiopedia, 2023. Disponível em https://www.physio-pedia.com/index.php?title=Neuroplasticity&oldid=347331. Acesso em: 19 ago 2025.
2 – ACKERMAN, Courtney. What Is Neuroplasticity? A Psychologist Explains. Positive Psychology, 2018. Disponível em https://positivepsychology.com/neuroplasticity/. Acesso em: 18 ago 2025.
3 – CHERRY, Kendra. How Neuroplasticity Works. Verywell Mind, 2024. Disponível em https://www.verywellmind.com/what-is-brain-plasticity-2794886. Acesso: 18 ago 2025.
