Você já se pegou adiando um sonho porque tem medo de fracassar? Ou então, porque acha que não é boa ou inteligente o suficiente para conquistar aquela vaga de emprego? A autossabotagem é algo que fazemos consciente ou inconscientemente. E é mais comum do que parece.
Ela pode se manifestar na forma de procrastinação, comparação, autocrítica excessiva e medo de falhar. Ao contrário do que muitos acreditam, a autossabotagem não tem nada a ver com falta de vontade, ou de disciplina, ela está enraizada na maneira como o cérebro processa o medo, mudanças e prazer.
O cérebro e a autossabotagem
O cérebro humano é voltado para a sobrevivência, por isso, busca sempre a segurança. Diante de uma ameaça em potencial, ele ativa a amígdala, responsável pela resposta de “fuga ou luta”. Entretanto, essa resposta pode ser ativada em uma situação que não é uma ameaça real, com um novo emprego, uma mudança de cidade ou até uma nova amizade1.
Na intenção de nos manter seguros, o cérebro induz a autossabotagem, mesmo que não haja nenhum perigo. Ela surge como um mecanismo de fuga e de proteção contra um desconforto emocional1. Afinal de contas, uma promoção no trabalho não é uma ameaça, pode ser algo desafiador, mas é algo positivo.
Por outro lado, quando a amígdala julga uma situação como ameaçadora, o córtex pré-frontal – que é ligado ao autocontrole, regulação emocional e à capacidade de planejamento – pode ficar sobrecarregado e perder a eficiência. Essa área do cérebro luta para sair da segurança da zona de conforto, e assim, surgem as dúvidas e a procrastinação, que são sinais de autossabotagem1.
O papel dos neurotransmissores
Além da amígdala e do córtex pré-frontal, a química do cérebro também atua na autossabotagem, particularmente, através do sistema de recompensas. Esse sistema é mediado pelo neurotransmissor dopamina, e está envolvido na regulação da motivação, do prazer e do reforço. Ele atua nas recompensas biológicas, por exemplo, a comida, e também nas recompensas culturais e sociais, por exemplo, quando você é aprovado pelo grupo, seja ele de trabalho, escola ou até sua família2.
Quando você desiste de uma tarefa que parecia difícil demais, e sente uma sensação de alívio, esse sistema é ativado e libera a dopamina, que gera a sensação de prazer. A gratificação instantânea é o que nos leva a repetidamente procrastinar ou desistir de projetos1,3.
O cortisol, o hormônio do estresse, é liberado em situações de estresse, afeta nossas decisões e contribui para que optemos por autossabotar e não persistir1,3.
Crenças limitantes
Quantas vezes você já repetiu a frase “eu não sou capaz”, ou “eu não consigo fazer isso”, ou “eu não sou inteligente o suficiente”. Quando você manifesta essas crenças limitantes, acaba evocando memórias de frustrações que aconteceram no passado. E isso pode levar a autossabotagem3.
Contudo, é possível romper com essas crenças. Sempre que estiver em uma situação que um desses pensamentos surgir, você pode trocar o reforço negativo por um positivo, determinando que você é sim capaz, e assim criar um novo caminho neural, que será fortalecido cada vez que você fizer essa troca entre pensamentos3.
Autossabotagem e ansiedade
A ansiedade é um dos transtornos que conhecidamente mais afeta a saúde mental das pessoas no mundo moderno. As cobranças diárias, tarefas que se acumulam e o estresse podem levar à ansiedade. Agora imagine se você procrastinar uma dessas tarefas? A autossabotagem também é um gatilho da ansiedade.
Você pode ficar ansioso porque adiou algo que tem uma data limite, e essa pressão a mais nunca é bem vinda. Você pode ter receio de ser julgado por outros, ou ainda, ficar ansioso porque ao desistir de uma oportunidade, você pode adiar seu crescimento profissional e isso te leva a se sentir “preso”3.
Conclusão
Enquanto muitos ainda desconhecem como a autossabotagem funciona, e julgam apenas como um defeito da pessoa, esse mecanismo é uma decisão do cérebro para se manter seguro e defender a sobrevivência. Algo que, durante a evolução foi fundamental, mas que hoje pode causar problemas.
Apesar de parecer difícil, existem sim maneiras de combater esse mecanismo, e não precisar desistir de um sonho, da tão sonhada promoção no emprego ou de alguma tarefa um pouco mais desafiadora. Saiba mais clicando aqui.
Você pode sim ir atrás do que deseja, é só saber que nem sempre o medo é um inimigo, muitas vezes pode ser só o seu cérebro tentando te proteger.
1 – Autossabotagem: como o cérebro te prende nela. Katiane Vieira, 2024. Disponível em https://katianevieira.com.br/desenvolvimento-pessoal/autossabotagem-como-o-cerebro-te-prende-nela/. Acesso em: 21 out 2025.
2 – SCHULTZ, W. Neuronal Reward and Decision Signals: From Theories to Data. Physiol Rev. 2015 Jul;95(3):853-951. doi: 10.1152/physrev.00023.2014.
3 – O que a neurociência revela sobre a autossabotagem diária. Dr. Jô Furlan, 2025. Disponível em https://drjo.com.br/o-que-a-neurociencia-revela-sobre-a-autossabotagem-diaria/. Acesso em: 21 out 2025.
