Relação entre o sistema nervoso e a cultura no comportamento humano

O comportamento humano vai além da biologia e da cultura onde uma pessoa está inserida, ele é constantemente o resultado da interação entre fatores biológicos e fatores culturais. E o mediador entre esses dois fatores é o sistema nervoso, que é responsável por processar estímulos internos e externos. 

Portanto, para entender a complexidade do comportamento humano, é preciso entender como o sistema nervoso e a cultura interagem, e como essa interação influencia o comportamento.

Sistema nervoso e comportamento

A coordenação do comportamento humano é feito pelo sistema nervoso, que se divide em central e periférico. O sistema nervoso central (SNC) é composto pelo cérebro e a medula espinhal. Enquanto o sistema nervoso periférico (SNP) conecta o SNC ao resto do corpo.

Dentro do cérebro, diferentes regiões contribuem para a regulação do comportamento:

  • Córtex pré-frontal: está ligado à tomada de decisão, planejamento e o controle inibitório. Portanto, é ele que permite que uma pessoa avalie as consequências, entenda e se porte seguindo as normas sociais. E é o ponto de conexão entre o sistema nervoso e a cultura1;
  • Sistema límbico: esse sistema contribui para o processamento das emoções, aprendizado e da memória, sendo composto pela amígdala e pelo hipocampo. A amígdala processa o medo, a ansiedade e avalia situações de perigo. O hipocampo está associado à formação de memórias, e essas são fundamentais para o aprendizado da cultura2;
  • Circuitos de recompensa: estão envolvidos na regulação da motivação, do prazer e do reforço. Os circuitos atuam não somente nas recompensas biológicas, por exemplo, a comida, mas também nas recompensas culturais e sociais, por exemplo, quando você é aprovado pelo grupo, seja ele de trabalho, escola ou até sua família3.

Além do SNC e SNP, temos também o Sistema Nervoso Autônomo (SNA), que se divide em Simpático e Parassimpático. O SNA está envolvido na regulação fisiológica das respostas emocionais, por exemplo, em situações de perigo, é o SNA que determina nosso instinto de “luta ou fuga”. O SNA também atua no gerenciamento dos níveis de estresse4.

Cultura e Sistema Nervoso: uma via de mão dupla

Dentro da neurociência, o ramo da neurociência cultural se dedica a entender como a cultura influencia tanto o desenvolvimento do cérebro quanto a neuroplasticidade. A neuroplasticidade é a capacidade que o sistema nervoso tem de se reorganizar e formar novas conexões neurais, diante das experiências que vivemos5

É através da plasticidade do cérebro, que a cultura pode moldar o cérebro. Ou seja, os valores, os símbolos, as normas e as práticas do grupo em que a pessoa vive, são capazes de marcar o desenvolvimento neural5

Por outro lado, o sistema nervoso propicia o desenvolvimento e a transmissão da cultura, através das capacidades do cérebro. Por exemplo, a memória é uma capacidade do cérebro, e através dela, podemos armazenar informações culturais. Outra capacidade do cérebro é a Teoria da Mente, que nos permite inferir estados mentais – como crenças, desejos, intenções e conhecimentos – de outras pessoas5.

Conclusão

Como dito no começo deste conteúdo, o comportamento humano depende de fatores biológicos e fatores culturais. E a relação entre o sistema nervoso e a cultura é muito íntima, com um moldando e promovendo alterações no outro. Enquanto as capacidades do cérebro nos permitem aprender e transmitir a cultura, a cultura influencia como pensamos, sentimos e agimos. 

Compreender essa relação é importante para diversas áreas do conhecimento e práticas sociais. Por exemplo, na psicologia, esse entendimento pode levar à criação de tratamentos que levam em conta as normas e valores culturais6. Na educação, entender essa relação ajuda a compreender que existem diferentes estilos de aprendizagem, devido às diferentes culturas7

Por fim, compreender essa relação é compreender a essência do ser humano, que vai muito além da sua biologia. A biologia nos ajuda a dar significado para o mundo à nossa volta, significado que nos transforma, ensina e nos permite viver e conviver.

1 – MILLER, Bruce L.; CUMMINGS, Jeffrey L. The Human Frontal Lobes : Functions and Disorders. New York: Guilford Press, 1999.

2 – LEDOUX, J. E. Emotion circuits in the brain. Annu Rev Neurosci. 2000;23:155-84. doi: 10.1146/annurev.neuro.23.1.155.

3 – SCHULTZ, W. Neuronal Reward and Decision Signals: From Theories to Data. Physiol Rev. 2015 Jul;95(3):853-951. doi: 10.1152/physrev.00023.2014.

4 – BEAR, M. F., CONNORS, B. W., & PARADISO, M. A. (2015). Neuroscience: Exploring the brain: Fourth edition. 

5 – CHIAO, J. Y. Cultural neuroscience: A once and future discipline. Progress in Brain Research, v. 178, p. 287–304, 2009. DOI: https://doi.org/10.1016/S0079-6123(09)17821-4.

6 – KIRMAYER, L. J. Cultural competence and evidence-based practice in mental health: epistemic communities and the politics of pluralism. Soc Sci Med. 2012 Jul;75(2):249-56. doi: 10.1016/j.socscimed.2012.03.018.

7 – IMMORDINO-YANG, M. H., & DAMASIO, A. (2007). We feel, therefore we learn: The relevance of affective and social neuroscience to education. Mind, Brain, and Education, 1(1), 3–10. https://doi.org/10.1111/j.1751-228X.2007.00004.x

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