Compreender o papel das emoções em um contexto evolutivo, ajuda a ilustrar como os nosso ancestrais conseguiram sobreviver e perpetuar a espécie, assim como elucidar a função das emoções em nossas vidas.
Durante grande parte da história da espécie humana vivíamos em pequenos grupos e buscávamos ambientes protegidos para nos abrigar, tal como cavernas. Por não sermos uma espécie forte, ágil, providos de veneno ou dentes e garras afiadas, os nossos ancestrais tiveram que encontrar uma maneira de ganhar vantagem sobre outros predadores e o ambiente. Estar em grupo foi uma dessas vantagens, aquele que se mantivesse perto de outros tinham mais chance de sobreviver e garantir a sobrevivência da espécie.
Estar isolado e excluído de um grupo faria com que suas chances de estar em perigo fossem bastante aumentadas. Dito isso, as emoções foram determinantes para nossa preservação porque através das emoções foi possível modular a maneira que cada indivíduo se comportava e interagia, garantindo uma relação social sustentável. Se sentir mal e ameaçado com a possibilidade de ser excluído socialmente foi um marcador evolutivo importante porque mantinha os membros do grupo unidos (1).
As emoções são reações fisiológicas causadas por um determinado estímulo. Quando estamos com medo de alguma coisa, o coração dispara, a boca seca, pupila dilata, pressão arterial aumenta, a pele fica pálida e os músculos contraem. As emoções têm como função principal a adaptação e modelagem comportamental ao ambiente, sendo respostas adaptativas do nosso corpo. As emoções são moduladoras de comportamento para nos ajudar a atingir os nossos objetivos. Todas as emoções são relevantes e importantes dependendo da intensidade de cada uma delas (2).
Uma vez que se manter em grupo era vital, foi necessário que o indivíduo se comportasse de maneira aceitável e útil para o grupo. A vida do indivíduo dependia de como outros integrantes do grupo o valorizaria, contribuindo com a comida dos seus filhos, proteção e cuidado.
Quanto mais valorizado pelos indivíduos do grupo, como um parceiro cooperativo, bom caçador, aliado, amigo confiável, parente confiável ou um inimigo perigoso, mais o seu bem-estar será colocado ao tomarem decisões (3).
Darwin(4) argumenta que expressões emocionais, como medo, raiva e alegria, são universais e desempenham papéis adaptativos na comunicação e na regulação do comportamento social. As emoções surgem como reações automáticas do nosso cérebro a estímulos do ambiente e surgiram como adaptações biológicas para ajudar a enfrentar desafios e oportunidades encontrados nos ambientes pelos nossos ancestrais ao longo do tempo.
Nossas respostas emocionais podem seguir duas vias cerebrais diferentes. Algumas emoções exigem uma “primeira via”. Essa primeira via analisará e rotulará aquela emoção. É um processo que temos a ciência do que está acontecendo.
Às vezes, nossas emoções tomam a “segunda via”, um atalho neural(5). Esse atalho, permite uma resposta emocional imediata antes que o intelecto intervenha. Como os reflexos rápidos que também operam independentemente do córtex cerebral pensante, a reação da amígdala é tão rápida que podemos não ficar cientes do que aconteceu(6).
Compreenda melhor emoções como o medo, a raiva e o orgulho no nosso artigo.
1. NESSE, R. M., & STEARNS, S. C. (2008). The Evolutionary Significance of Feelings. Behavioral and Brain Sciences, 31(4), 375-396. https://doi.org/10.1017/S0140525X08004246
2. EVANS, D. (2001). Emotion: The Science of Sentiment. Oxford University Press.
3. MATUTE, H., & TORRALBA, M. (2015). The role of emotions for moral agency. Emotion Review, 7(4), 368-373. https://doi.org/10.1177/1754073915590737
4. DARWIN, C. (1872). “The Expression of the Emotions in Man and Animals”. John Murray.
5. LEDOUX, J. E. (1998). “The Emotional Brain: The Mysterious Underpinnings of Emotional Life”. Simon & Schuster.
6. DIMBERG, (2000). “Unconscious facial reactions to emotional facial expressions”.
Felipe é fundador da Umajuda e especialista nas áreas de Neurociência e Filosofia. Apoiador de movimentos filantrópicos, empreendedor e executivo a mais de duas décadas, acumulou experiências internacionais que lhe permitiram conhecer diversas realidades, culturas e aprofundar seu conhecimento sobre o comportamento humano. Atualmente, também é doutorando pela USP na área de Neurociência.