Cada um de nós pode facilmente listar as características de uma pessoa inteligente. A sociedade constantemente tenta classificar as pessoas como mais ou menos inteligentes.
É normal tentar definir determinadas habilidades como sinônimo de inteligência, por exemplo, uma pessoa que fala 6 idiomas, um aluno que tira nota alta na escola ou até mesmo um bebê que começa a caminhar com nove meses de idade.
As ideias que temos sobre inteligência, influenciadas pelo ambiente e que mudam conforme o contexto, são chamadas de teorias implícitas da inteligência. Inconscientemente, aplicamos essas teorias diariamente para avaliar pessoas e ações como mais ou menos inteligentes, baseando-nos em nossas próprias crenças e, sobretudo, no contexto em que estamos inseridos1.
Por exemplo, o integrante de uma tribo indígena que vive no meio da Amazônia que consegue diferenciar e manipular plantas medicinais e curar pessoas, ele é certamente considerado inteligente pelo seu grupo. Já se esse mesmo homem estiver em uma construção de um edifício junto de outros engenheiros, ou em um campeonato de culinária japonesa, possivelmente ele não terá a mesma reputação nesses novos ambientes.
Esse exemplo valida o que pesquisadores já constataram sobre a importância da cultura e contexto na definição da inteligência. Eles apontaram que o que é considerado inteligente em uma cultura pode ser considerado menos inteligente em outra cultura2.
Por isso, definir inteligência é uma tarefa complicada. É difícil encontrar um consenso na literatura sobre o assunto. Existem pelo menos 70 definições científicas diferentes de inteligência3.
Entretanto, durante um levantamento bibliográfico sobre essas definições foi constatado dois temas recorrentes em todas elas.
Primeiro, a inteligência envolve a capacidade de aprender com a experiência. Segundo, envolve a habilidade de se adaptar ao ambiente ao redor4.
Não adianta possuir uma habilidade específica se ela não contribuir para o aprendizado e a adaptação do indivíduo ao seu ambiente.
Anos após essa definição sobre inteligência, 24 psicólogos cognitivos com experiência em pesquisa de inteligência foram expostos a mesma questão5. Eles também ressaltaram a importância de aprender com a experiência e se adaptar ao ambiente.
Adicionalmente, eles ampliaram a definição para enfatizar a importância da metacognição – a compreensão e o controle das pessoas sobre seus próprios processos de pensamento -, ou seja, a possibilidade de manipular e focar a atenção sobre aquilo que desejamos. A atenção é vital para o processo de aprendizagem e adaptação
Desta maneira, a inteligência foi definida como a capacidade de aprender com a experiência, usando processos metacognitivos para melhorar o aprendizado, e a habilidade de se adaptar ao ambiente ao redor; podendo exigir diferentes adaptações dentro de diferentes contextos sociais e culturais6,7,8.
1 – FARIAS, Luísa. Teorias implícitas da inteligência: estudos no contexto escolar português. Paidéia (Ribeirão Preto) 12 (23) • 2002. https://doi.org/10.1590/S0103-863X2002000200007
2 – Ang, S., Van Dyne, L., & Tan, M. L. (2011). Cultural Intelligence. In R. J. Sternberg, & S. B. Kaufman (Eds.), Cambridge Handbook on Intelligence (pp. 582-602). Cambridge Press. https://doi.org/10.1017/CBO9780511977244.030
3 – Legg & Hunter, 2007 apud Sternberg, R. J. Intelligence and competence in theory and practice. In A. J. Elliot, C. S. Dweck, & D. S. Yeager (Eds.), Handbook of competence and motivation: Theory and application (2nd ed., pp. 9–24). The Guilford Press, 2017.
4 – Sternberg, R. J. (2018). Theories of Intelligence. In S. I. Pfeiffer, E. Shaunessy-Dedrick, & M. Foley-Nicpon (Eds.), APA Handbook of Giftedness and Talent (pp. 145-161). American Psychological Association. https://doi.org/10.1037/0000038-010
5 – Sternberg, R. J., & Detterman, D. K. What Is Intelligence? Contemporary Viewpoints on Its Nature and Definition. Ablex, 1986.
6 – Niu, W., & Brass, J. (2011). Intelligence in worldwide perspective. In R.J. Sternberg, & S.B. Kaufman (Eds.), Cambridge handbook of intelligence (623- 646). Cambridge University Press. https://doi.org/10.1017/CBO9780511977244.032
7 – Saklofske, D. H., van de Vijver, F. J. R., Oakland, T., Mpofu, E., & Suzuki, L. A. (2015). Intelligence and culture: History and assessment. In S. Goldstein, D. Princiotta, & J. A. Naglieri (Eds.), Handbook of intelligence: Evolutionary theory, historical perspective, and current concepts (pp. 341–365). Springer Science + Business Media. https://doi.org/10.1007/978-1-4939-1562-0_22
8 – Sternberg, R. J. (2004). Culture and intelligence. American Psychologist, 59, 325–338. https://doi.org/10.1037/0003-066X.59.5.325


Felipe é fundador da Umajuda e especialista nas áreas de Neurociência e Filosofia. Apoiador de movimentos filantrópicos, empreendedor e executivo a mais de duas décadas, acumulou experiências internacionais que lhe permitiram conhecer diversas realidades, culturas e aprofundar seu conhecimento sobre o comportamento humano. Atualmente, também é doutorando pela USP na área de Neurociência.